As intervenções humanas e suas consequências no clima, e consequentemente na biodiversidade da terra estão em uma escala tão marcante que há uma corrente de cientistas que defende que estamos entrando em uma nova época geológica: o Antropoceno.
Mas afinal, o que é o Antropoceno?
As épocas geológicas são classificadas em função do clima do planeta e como este influencia a vida das espécies na terra. A época atual, chamada de Holoceno, abrange os últimos 11,5 mil anos e é caracterizada pelo clima estável que permitiu o desenvolvimento de muitas espécies, inclusive do homem. Segundo Paul Cruzten, ganhador do prêmio Nobel de química, os efeitos dos seres humanos, e em especial as emissões de dióxido de carbono, têm aumentado e alterado o clima global. E por este motivo, parece adequado marcar uma nova época: o Antropoceno. Para o pesquisador, o Antropoceno começou na segunda metade do século XVIII, quando as análises do ar contidas no gelo polar mostraram o início do crescimento das concentrações globais de dióxido de carbono e metano. Esse período também coincidiu com o projeto do motor a vapor, do matemático e engenheiro James Watt, em 1784.
De acordo com o New York Times, no dia 17 de dezembro de 2022, um painel de cientistas deram um grande passo para declarar o Antropoceno como um novo tempo geológico, a era dos humanos. Todavia, ainda está em discussão se o Antropoceno seria introduzido como um tempo geológico, como o Pleistoceno ou o Holoceno, dentro do período Quaternário, ou se estaria em um nível hierárquico inferior.
Ainda segundo o New York Times, os 35 estudiosos que participaram do painel pareciam estar perto de endossar que na realidade passamos as últimas décadas em uma unidade de tempo nova, caracterizada pelas mudanças em escala planetária induzidas pelo homem, que estão incompletas mas em pleno andamento, ou seja, estão acontecendo.
“A tese central do Antropoceno é que a humanidade afetou a natureza a ponto de ser responsável pelo novo estrato no registro geológico”, resume o artigo “A Incursão do Antropoceno no Sul Global”. Segundo a Unesco historiadores e antropólogos têm questionado a referência a anthropos. Eles se perguntam se não seria o caso de salientar, nesta definição, o homem ocidental e um certo sistema econômico como responsáveis por se ultrapassar os limites biofísicos do planeta, explica o documento da organização.
Qual a grande oportunidade que emerge deste questionamento?
A humanidade vive uma época de muito conhecimento e com muitas conquistas no campo de desenvolvimento tecnológico e ciências. Vivemos em um tempo em que para a humanidade, praticamente quase tudo é possível. Temos inclusive conhecimento das consequências indesejáveis para a natureza que o fazer humano pode gerar. A discussão sobre o nome para uma nova época, o antropoceno, reforça este contexto.
Fica então o convite à reflexão: se evoluímos tanto no desenvolvimento de conhecimento, como queremos continuar a vida na terra? Como queremos que o Antropoceno seja contado e referenciado na história? Queremos que ele seja referenciado como uma época caracterizada pelo domínio total da humanidade sobre os processos naturais? Queremos que ele seja marcado como a época de degeneração dos processos naturais? Queremos que ele seja lembrado por uma época em que a inteligência humana foi usada com toda a sua potência para reverter os processos degenerativos da terra. Queremos que ele seja marcado pelas descobertas e ações de como conviver em harmonia com a natureza?
Humberto Maturana, cientista chileno, afirmava que, por sabermos o que sabemos e termos consciência do que ocorre, vivemos em um momento histórico enquanto espécie. Temos na nossa frente a grande oportunidade de nos tornarmos a linhagem homo sapiens amans ethicus. Esta linhagem da espécie humana se caracteriza pela ação a partir da responsabilidade e consciência ética, dos seres vivos que mais influenciam a terra: os humanos .